"Turismo de Realidade"
No último fim-de-semana que estive em Portugal, aproveitei para ler com atenção as principais notícias do semanário Expresso. Um ritual que gosto e, certamente, não vou poder ter acesso, a não ser pela internet, aqui na Austrália. Para ser sincera, até está a saber bem alienar-me das principais notícias que compõem os jornais portugueses. Neste continente, que sempre nos parece tão distante e isolado, ainda não ouvi ou li algo relacionado com a crise, as exigências da troika, o corte nos salários, os ocultos buracos financeiros ou a simples influência que os mais diversos lobbies têm na nossa sociedade. Devo confessar que ler as notícias em Portugal estava-me a deixar deprimida e assustada, depois de ter acabado a licenciatura sentia-me à deriva e com muitos receios em relação ao meu futuro. Incrível como por aqui, não consigo pensar nisso. Apenas quero evoluir, aprender e crescer. Não estou a escrever este texto para falar sobre a situação portuguesa ou europeia, mas sim para falar sobre uma notícia que me suscitou interesse, uma notícia que quebrava os grandes títulos políticos.
Chama-se turismo de realidade, tem cada vez mais adeptos, cada vez mais empresários e favorece o desenvolvimento das comunidades. Este tipo de turismo tem como intuito, mostrar a autenticidade dos locais, mostrar quais são de facto as pessoas e as culturas que caracterizam um destino e, não apenas, mostrar as grandes avenidas, os grandes complexos turísticos ou as magníficas praias de areias brancas, água límpida e palmeiras.
Neste caso concreto, faz-se referência às favelas do Rio de Janeiro, especificamente à Rocinha, a maior e, até há muito pouco tempo, a mais perigosa. Estima-se que é visitada por cerca de 300 turistas por dia, sendo que nas épocas altas pode atingir os 500. Acredito que os protagonistas destas visitas estejam em busca de verdadeiras experiências de interacção com as comunidades locais, conhecendo os seus modos e condições de vida. Pergunto-me se este enorme volume de visitantes consegue realmente viver uma experiência autêntica? A partir do momento em que todas as visitas são organizadas e se criam empresas específicas para fazer estes serviços, não estará tudo a ser encenado? E a receita que advém destas visitas nada mais faz que favorecer os poderosos empresários que descobriram no modo de vida de uma comunidade o seu negócio. O que será que as comunidades recebem por se estarem a expor? De facto, estes são os actores principais deste filme visto por 700 mil estrangeiros nos últimos 20 anos.
A autenticidade dos destinos não pode apenas passar pelo reconhecimento da UNESCO como património mundial. Passa por haver um planeamento contínuo de envolvimento das comunidades e das entidades responsáveis pelo desenvolvimento destas visitas, de modo a que este tipo de turismo, o turismo de realidade, passe a contribuir para o desenvolvimento das comunidades locais. Principalmente quando falamos de países como o Brasil, países africanos e asiáticos, onde a consciência para a preservação das culturas e tradições se desvanece rapidamente.
Deixo-vos a minha reflexão. Qual é a vossa opinião??