Timor Leste, o mais recente país do sudoeste asiático



Timor?? Porquê Timor?? Tem ondas?? 
Não há ondas, ainda não está na hora de voltar a surfar, mas há muita cultura para absorver no mais recente país do sudoeste asiático. A minha ida a Timor Leste teve um propósito diferente de qualquer uma das viagens que até agora fiz: visitar uma antiga colónia portuguesa no sudoeste asiático. 
Ainda me recordo quando em 1999 estava a passar na embaixada americana em Sete Rios e vejo uma grande multidão a pedir paz acenando com lenços brancos. Sendo mais correcta, a pedir a rápida intervenção das Nações Unidas para acabar com o massacre em Timor, na altura Timor Lorosae. Indignada, com apenas 11 anos, pergunto ao meu pai o que estava a acontecer. A sua pronta resposta deixou-me incrédula e triste: A Indonésia invadiu Timor assim que Portugal lhes deu independência e agora está a devastar o país. Massacres, atentados, mulheres violadas e crianças mutiladas, era um cenário constante na televisão, que nunca saiu da minha memória. Em casa, o boicote a produtos vindos da Indonésia foi imediato. A partir daí cresceu um enorme carinho e compaixão por Timor Leste. A curiosidade levou-me a perguntar ao meu pai, anos mais tarde porque tinha acontecido tal massacre. Pois é, apesar de ser um pequeno país que partilha a ilha com a Indonésia, os seus recursos naturais são inúmeros. Petróleo, gás e uma terra muito fértil, quem diria. Não estando satisfeita, decidi aprofundar o assunto. Não quis acreditar na barbaridade dos actos indonésios ao ler o livro Ilha das Trevas do José Rodrigues dos Santos. A descrição dos atentados e massacres é de tal forma real, que cada página que lia fazia com que me arrepia-se e, por vezes, sai-se uma lágrima inocente. Continuava sem conseguir acreditar na atrocidade dos actos indonésios. Entendi o que se tinha passado durante a evasão indonésia, como o mundo se uniu para acabar com a total violação dos direitos humanos que se fazia sentir e fiquei com uma breve percepção geopolítica deste pequeno país. 
Estando a viver na Austrália, a distância é bem mais curta e, tendo casa e roupa lavada, não pude deixar escapar a oportunidade de conhecer este lindo país que tem tantos traços da cultura Portuguesa. Na verdade, se não aproveitasse esta altura, iria ser mais um ano que me perdia nas ondas da Indonésia, sem pensar sequer na ida a Timor Leste.
Ao chegar ao aeroporto saúdam-me  em Português. Depois de quase 5 meses a viajar e não ouvir uma única palavra em português pelos prestadores de serviços, senti-me em casa. A recepção por parte da Rita, que está a viver há cerca de 2 anos em Timor foi exemplar. Levou-me a tomar um expresso timorense ao Hotel Timor, onde a os traços do passado colonial ainda estão presentes, bem como uma atmosfera muito portuguesa. Seguiu-se um almoço com sumo de papaia, bem ao estilo do sudoeste asiático. No mesmo dia, começou a viagem até à ilha de Jaco. A ilha de Jaco é o local perfeito para um bom dia de sol e snorkeling, onde a presença de turistas é rara. Sinto-me a entrar no paraíso, ou na concepção que dele tenho. O acesso é difícil e apenas é possível através de jipe. São cerca de 8 cansativas horas em estradas deterioradas e um barco que não demora mais de 15 minutos. Pelo caminho surgem os Boa Tarde, pronunciados como “Boa Tardi” e o “Hi Malaia” (Olá Branca). Para pernoitar na primeira noite, depois de 4 horas de viagem escolhemos  a Pousada de Baucau. Característico edifício do estilo colonial português. Para jantar, o restaurante Amália, com um menu que me deixou água na boca e com muitas saudades da comida portuguesa. No entanto, pouco tardou até ao pequeno almoço, onde serviram uma deliciosa compota de abóbora com fruta fresca e ovos mexidos. Sendo a ilha de Jaco considerada sagrada pelos locais, não é possível pernoitar e assim, acabamos por escolher um bungalow na comunidade Vale do Sere. Uma cooperativa que está encarregue de gerir aquele pequeno espaço de alojamento. São compostos 4 grupos de trabalho que de 4 em 4 semanas trocam, de forma a todos lutarem pelo mesmo objectivo. Os nomes são totalmente portugueses e volto a sentir um enorme carinho. Muito triste, o senhor Mário dos Santos, o único membro da comunidade que falava  português diz: “Gosto quando português fica aqui. Não ter com quem poder falar português e eu gostava de melhorar. Sei que falar muitas coisas mal.” Escusado será dizer que o jantar foi passado a partilhar, em português, experiências de guerra ao lado do “Senhor Xanana”, a falar sobre o povo timorense, a Fretilin e as eleições que se aproximam. Na manhã seguinte lá estava pronto o senhor Mário para nos servir o Mata Biso, isto é, o pequeno-almoço. 
Findos estes dias de praias e viagens, foi altura de explorar Dili e os seus arredores. Pela manhã aproveitei para ir ao mercado de Maubara, onde se encontram pequenas comunidades locais a vender o típico “Artesanatu Lokal de Maubara”. Perco-me à conversa na banca da senhora Maria da Costa Cabral, que alegremente fala comigo sobre Portugal e termina com: Comprimentos à família. Claro que acabei por comprar as típicas peças de decoração feitas à base de folha de palmeira colorida. A viagem de Dili até Maubara é cerca de uma hora, mas isto porque o estado de conservação das vias de comunicação em Timor não são as melhores. Um percurso que se pode fazer em pouco mais de meia hora, demora sempre o dobro, ou mesmo o triplo. 
Pela tarde depois de um agradável almoço em Dili, perco-me pela caótica cidade. Foi tempo de ir ao tradicional mercado dos Tais, o produto de artesanato que caracteriza Timor. Faz-se tudo de Tais, malas, cobertores, cobertas, roupa, pulseiras, cadernos, é só dar asas à imaginação. 
A verdadeira experiência cultural, completamente fora do contexto turístico, foi a passagem pelo mercado de “Hali Laren”. O mercado onde entramos dentro da rotina do povo timorense e dos seus hábitos comerciais. Especiarias, fruta, legumes, roupa e utensílios para o lar dão ao mercado uma atmosfera colorida e, dentro do possível, organizada, assim como mostram quão fértil é a sua terra. 
Antes da chegada à Avenida Marginal foi tempo para passar no cemitério que foi construído em homenagem aos mortos do massacre de Santa Cruz. Aqui sente-se o que o povo timorense sofreu, onde não consegui erguer a máquina fotográfica e tirar algumas fotografias. 
Do outro lado do Cristo Rei, há a praia dos portugueses. Uma praia selvagem e absolutamente fantástica. Perto de Dili, apresenta-se como um bom e acessível refúgio para o fim de semana. A ilha de Ataúro mesmo em frente a Dili é outro ponto de interesse para quem passar um fim de semana relaxado na praia, no entanto não está acessível a todos os bolsos, aproximadamente despesa para 250 USD , bem como só tem um barco por dia. 
Adorei esta experiência por Timor Leste. Um cantinho ao estilo Português no sudoeste Asiático. Gastronomia, língua, nomes e apelidos deixaram-me encantada por este recente país. Um potencial turístico em bruto que, se as infra estruturas primárias e secundárias forem construídas e melhoradas, certamente vai aumentar o número de turistas e aumentar as suas receitas. Não nos podemos esquecer que a Austrália está mesmo ao lado, e os restantes países do sudoeste asiático estão cada vez mais curiosos e independentes para conhecer o mundo.     

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